domingo, 18 de agosto de 2013

Myanmar


"Myanmar, nome recuperado da antiga Birmânia em 1989, é um dos últimos recantos do globo a abrir-se aos viajantes e hoje em dia conserva boa parte do fascínio e autenticidade que sempre ocorrem nestas circunstâncias. Cinco décadas de isolamento, cortesia de um dos regimes militares mais fechados do mundo, Myanmar é, aos olhos de um viajante, um país cujo maior tesouro – apesar de milhares de pagodas medievais, grandes rios, lagos belíssimos e verdes montanhas – encontra-se sem alguma duvida nas suas gentes. A ausência de contacto com todos os demónios que acompanham inevitavelmente o turismo massivo dos dias actuais, e a persistência de uma cultura elevada, generosa e pura, resultou num povo educado, honrado e em muitos casos dotado de uma comovedora inocência. Pouco a pouco, umas poucas zonas do país já se vão acostumando ao turismo, mas ainda assim os visitantes encontrarão uma nação a anos luz, por exemplo da sua vizinha Tailândia. O mais impressionante nas gentes de Myanmar é a sua enorme dignidade, qualidade que numa dimensão geral não é fácil de encontrar nas sociedades ocidentais. Pobres e menos pobres, é difícil ver algum birmanês com algum mau gesto ou má expressão (quase todos sorriem quando cruzam os olhos connosco), uma má postura (ainda que esteja a vender fruta de cócoras), ou um olhar de esquina, chateado ou rancor - apesar de que desgraçadamente neste país, para a maior parte da população tais sentimentos estariam mais que justificados. Uma das formas mais elevadas de budismo também contribuíram para formar um povo pacífico (excepto os seus governos militares) sereno e bondoso. Uma viagem pelo Myanmar passa necessariamente pelas pagodas centenárias de Bagan, a calmaria das águas de Inle Lake, os animados bazares nocturnos de Yangon e os monumentais arredores de Mandalay; no entanto, o que se recorda com mais intensidade depois da viagem será o sorriso que dedicou a alguma anciã, o olhar inocente de uma criança, o conselho budista de um camponês para alcançar a paz de um sonho, ou as inocentes perguntas sobre a origem do viajante num inglês quase imperceptível. No Myanmar, hoje em dia não há problema em ser um viajante individual (nas zonas abertas ao turismo, entenda-se), mas a dose de aventuras e a frequente sensação de andar perdido num mundo estranho é garantido: comboios lentos, incómodos e lotados, antigos autocarros que realizam intermináveis e desconfortáveis trajectos por estradas cheias de buracos, táxis decrepitados, autocarros degradados, carroças de cavalos… a dificuldade no transporte para quem não optar por avião (ainda que, diga-se de passagem, tem as suas peculiaridades, onde operam companhias de aviação com escandalosos índices de acidentes) faz parte do atractivo num país onde fazer uma viagem de 200km pode-se tornar facilmente numa aventura de 8h. Os hóteis baratos, são, fora dos principais centros turísticos sinistros e tremendamente básicos, as tendas de comida locais apenas podem oferecer uma chávena de chá, um prato de arroz branco com uma taça de frango, uma sopa de peixe e noodles; os serviços turísticos são mínimos ou quase inexistentes fora de algumas populações; a grande maioria da população só entende e fala três ou quatro frases básicas em inglês no melhor dos casos, pelo que a comunicação terá de se limitar quase sempre a sorrisos e gestos. Apesar disso, todas estas circunstâncias convertem a visita a este país numa viagem fascinante, desconcertante, diferente e inesquecível."
Retirei este texto do “Guia Azul” que penso que caracteriza na perfeição o que é viajar pelo Myanmar, ou melhor, a grande aventura e lição que é percorrer este país.


Considerações sobre Myanmar:
- as decisões políticas fazem-se recorrendo a astrólogos.
- Os carros circulam pelo lado direito da estrada, apesar do volante estar à direita (sim, novamente culpa dos astrólogos), daí a razão porque os autocarros têm um condutor e ao lado um navegador a dar indicações de quando pode ou não ultrapassar.
- Na circulação, a prioridade é do veículo maior (mas sempre com a mão na buzina).
- Arranjar o visto não é difícil, mas dá trabalho. Em Portugal não existe embaixada. Arranjei o meu em Genebra e é necessário possuir bilhete de avião de entrada e saída do país e pelo menos o nome do hotel para a primeira noite. Apenas se pode entrar e sair via aérea por Yangon e mais recentemente também por Mandalay. Jamais dizer que se é advogado, jornalista, escritor ou membro de uma associação de direitos humanos.
- A melhor maneira de arranjar transportes e dormida pelo país é estando lá. Saí da europa apenas com um hotel marcado, nada mais. No hotel, tratam de tudo. No primeiro pedi para arranjarem hotel para o local seguinte e bilhete de autocarro. Nenhum turista precisa de fazer o mínimo de esforço para arranjar algo. Eles tratam de tudo, inclusive tranfers, tour e bilhetes de avião.
- Roaming não há, em Portugal nenhuma operadora tem contrato com Myanmar (telemóvel só mesmo para ver horas).
- Internet existe em muitos locais, a maioria dos hotéis já possui, mas a uma velocidade muito lenta. Surpresa das surpresas… O Facebook está acessível (yeahhhh).
- Antes de ir, li em vários locais para levar dólares porque era a moeda exigida aos turistas. Na realidade, o que encontrei foi bastante diferente. Apesar de se necessitar de alguns dólares, a grande maioria, desde hóteis, restaurantes ou vendedores de rua, começam a preferir kyats. Mas se uma pessoa tiver só dólares também aceitam. Pode fazer-se o câmbio nos hóteis, mas a taxa não é a melhor.
- Os homens andam com um pano enrolado à cintura que forma uma saia, chama-se longyi (quase todos andam assim). Mascam umas folhas com sementes no interior, o que permite a bela da visão de sorrirem com os dentes vermelhos parecendo que estão a sangrar. Para melhorar a visão, costumam cuspir isso para qualquer lado, encontrando-se para onde quer que se olhe manchas vermelhas.


Dito isto, eis a minha passagem por este inesquecível país.


 MANDALAY

 Cheguei a Mandalay num voo da Air Asia desde Bangkok no dia 26 de Julho. Quando se avista o aeroporto percebe-se logo que estamos a anos luz da civilização a que estamos acostumados. Uma boa surpresa foi o autocarro grátis da Air Ásia que transporta os passageiros até à cidade. Em Mandalay ficámos hospedados no Emperor Hotel, um pouco afastado do centro, numa zona bem mais calma sem os constantes apitos de motas e carros. Ao lado do hotel, uma boa surpresa para quem precisa de matar saudades da comida ocidental. O restaurante Bistro oferece uma grande variedade de pratos, com excelente comida e preços bastante acessíveis (média de 4000 kyats por prato). Com o passar do tempo, acostumamo-nos a fazerem vénias por tudo e por nada, nem que seja para trazer os talheres à mesa, mas no início é constrangedor. Resta devolver um sorriso sincero e agradecer. Caminhando para o centro da cidade, estava na expectativa de encontrar, pelo menos, uma pequena rua de hotéis com alguns turistas. Apesar de ter perfeita noção que o turismo neste país está a dar os primeiros passos, nunca imaginei que andaria horas pelo centro (leia-se, ruas e ruelas de casas degradadas, lixo, e muita confusão) sem encontrar um ocidental. Isto parece-me impossível em qualquer outra cidade considerada a segunda maior do país, mas aqui é uma realidade. Dois ocidentais percorrerem o mercado onde vendem todo o tipo de alimentos é um autêntico fenómeno, inevitavelmente todos ficam a olhar para nós e todos esboçam um sorriso quando olhamos para eles.




 Atravessei ruas onde centenas de pessoas vivem entre um muro e um canal de esgoto, algumas crianças a tomar lá banho, e nem por um segundo senti qualquer receio de insegurança, isto mesmo estando a ser observada por toda a gente.




 Mandalay, enquanto cidade não tem grande interesse, o verdadeiro tesouro está nos arredores. Para isso, pedimos no hotel um transporte para o dia seguinte. Por 40000 kyats, tivemos um táxi para todo o dia que nos levou até aos sítios de maior interesse. Uma passagem rápida por um templo, onde por sorte vi uma cerimónia que é considerada um dos mais importantes dias de um birmanês, o dia em que entra num mosteiro para tentar ser monge.




Daí fomos a Amarapura, ao maior mosteiro de Mandalay ver 1200 monges em fila para receber a doação de arroz e comerem todos juntos. Os monges só podem comer duas vezes ao dia, às 10h e ao final da tarde. Pelo que o nosso guia nos informou, são necessários cerca de 15 anos de estudo em mosteiros, universidade e alguns exames para se tornarem monges budistas.









A caminho de Saigang, parámos numa “fábrica” de seda. Bem, aquilo de fábrica pouco ou nada tem, é como entrar num filme medieval. Os tecidos, com ou sem padrões, são feitos à mão em teares de madeira. Lembro-me da minha bisavó ter um tear do género para fazer mantas, mas é surreal trabalhar-se seda desta maneira nos dias de hoje.



Antes do almoço, uma visita a Saigang, um monte verdejante repleto de pagodas douradas. Um bom conselho é levar chinelos. Em qualquer lado é exigido deixar o calçado à entrada. Indumentária apropriada também é pedido, ou seja, roupa pelo tornozelo e ombros tapados (isto serve para homens e mulheres). Não é necessário levar muito à risca, uns calções abaixo do joelho já será suficiente, mas por uma questão de respeito, nada de tops nem calções curtos.



A questão seguinte e já com o estômago a dar horas era onde iríamos comer. Restaurantes como nós conhecemos pela europa não existem, nem coisa parecida. Existem palhotas que servem comida local. E pronto, foi numa dessas o nosso almoço que ficou toda a comida por 3000 kyats.





Ao lado do “restaurante”, apanhámos um pequeno barco para Ava, uma pequena ilha. A ilha não é grande, mas impossível fazer a pé. A única opção é pagar 10 dólares e ir numa carroça puxada a cavalo. Para visitar esta ilha, assim como algumas coisas em Mandalay é necessário um bilhete de entrada que custa 10dls que dá direito a entrar em qualquer lado, neste caso, em todos os locais de Mandalay e arredores.










Ultima paragem, a fabulosa ponte de madeira de Amarapura para ver o por do sol. Bem, não cheguei a ver o por do sol, mas é uma vista fenomenal, com monges para trás e para a frente, pescadores ao longo da ponte, barcos, pescadores de rede no meio do rio, enfim, imperdível.







Dia seguinte, deixar Mandalay e apanhar um autocarro até ao ex-libris do país, Bagan.

Uma boa notícia para quem está a pensar visitar o Myanmar é que os autocarros já são bastante decentes aos nossos olhos, nada de luxo, mas já possuem AC. Isto claro, autocarros de e para destinos turísticos, não estou a falar dos ordinários que são numa quantidade muito superior. Coisas que não falham… tem de se estar com meia hora de antecedência para fazer o “check in”, são sempre muito cedo, às primeiras horas da manhã, o volume dentro do autocarro é no máximo, leva-se com a oração da manhã, nunca falha também vários clips musicais dos maiores cantores asiáticos e com sorte, depois da musica apanha-se um filme americano, eu apanhei o Titanic, mas o normal é um filme asiático. A viagem dura cerca de 5h por estradas más e menos más… desde alcatrão a terra, mas sempre com solavancos, isso não falha. O facto de ser nestes autocarros o local onde se vêm maior concentração de turistas (e não passam dos 20), não impede que também circulem muitos locais, o princípio é: enquanto houver lugar entram, nem que seja sentado no corredor. É então com muita facilidade que um autocarro de 50 lugares se transforme rapidamente em mais de 60.










 BAGAN

Pelo inicio da tarde cheguei a Nyaung U, ultima paragem do autocarro e segui para New Bagan num transporte do hotel. Pelo caminho, no meio da conversa com o condutor, estava a dizer que a viagem demorou 5 horas, o que foi bom pois estávamos a contar com 7 horas. Resposta sincera dele: Sim, é rápido, as estradas agora são muito boas. Fiquei a pensar, boas? Metade é em terra e em cada 10 metros existem 5 buracos. A diferença daqui para o Ocidente, o que aqui é considerado bom, na Europa é uma vergonha. É obrigatório pagar uma entrada de 15dls por pessoa para visitar a área, o autocarro simplesmente pára no local da bilheteira e arranja-se o bilhete. Existem várias formas de visitar Bagan, bicicleta, cavalo ou táxi. Nós optámos pela bicicleta que se aluga em qualquer hotel por 4000 kyats. A desvantagem desta escolha, é que é impossível ver os 2500 templos espalhados por 40km e o extremo calor não ajuda. Ainda assim, o templos mais imponentes encontram-se nos arredores de Old Bagan, não muito distantes uns dos outros, mas mesmo assim, é um dia para fazer uns bons quilómetros a pedalar. Quando parei no primeiro, um templo muito pequeno e isolado, veio ter comigo um simpático senhor que me disse que tinha passado dois meses a pintar o interior, passou um bom tempo enquanto me explicava os pormenores do buda, dos pés do buda, do tecto, e ainda como custava ter de pintar aquilo de cabeça levantada a olhar para cima. Aquela beleza e pormenores eram magníficos e fiquei a pensar em todo o esforço que o senhor dedicou àquilo para que poucos turistas vejam o templo uma vez que fica isolado e longe da principal rota. Pouco depois, apareceu outro senhor que se sentou no meio do templo para me mostrar umas pinturas dele. Eram fantásticas e lá fiquei com duas. Entre conversas lá ficámos uma boa hora a comunicar por inglês rudimental e gestos. Antes de sair, o senhor que pintou o templo foi chamar os netas para apresentar. Entre mais alguns sorrisos, despedi-me e saí a pensar que aquela hora nunca me iria sair da memória.









 Almocei próximo do templo de Ananga, no Bistro e fui tomar um café ao Yar Pyi onde conheci os donos, marido e mulher com uma simpatia descomunal. A chegada de um turista é um verdadeiro evento e o senhor vem logo com um quadro onde imprimiu as criticas do trip advisor ao restaurante deles. Fiquei tocada quando estavam a falar connosco e desabafaram que estavam muito tristes, porque apesar de saberem que o restaurante deles é o melhor, o da frente lhes roubava todos os clientes porque tinha acordos com agentes de viagens. A expressão de desalento deles fez-me prometer que iria, dentro do possível falar bem do restaurante deles e até andei por lá a falar com turistas a tentar convencê-los a almoçar por lá. Verdade seja dita, no guia que levei, era o restaurante que aconselhava.




Visto o templo de Ananga e uns outro mais, subi ao templo Shwesandaw, famoso para ver o por do sol. A subida é um pouco difícil, com os degraus muito estreitos, e cada um com meio metro de altura, mas a vista de lá de cima é de tirar a respiração. Não esperei pelo por do sol, mas à sombra e com ventinho, ainda fiquei mais de meia hora lá por cima. Ao descer, tinha a rapariga de 13 anos que antes me tinha tentado convencer a comprar uma pulseira. Por incrível que pareça dizia uma ou duas palavras em português. Apesar de lhe ter dito que não ía comprar nada, ela fez questão de nos mostrar e explicar um fantástico buda enorme que está próximo do templo, mas que passa despercebido. Enquanto falávamos, entre perguntas de até quando ficam cá e para onde vão, ela, com uma expressão enternecedora disse-me que eu era rica. No primeiro momento disse que isso não era verdade porque para viajar tinha de juntar dinheiro durante um ano… ela simplesmente disse “mas estás cá, és rica”. Com aquela frase destronou qualquer argumento que eu pudesse ter. Sim, sou rica, a riqueza não passa de um conceito que varia de pessoa para pessoa e de país para país.









Em New Bagan, onde estava alojada, enquanto dava uma pequena volta pela localidade vieram ter comigo duas simpáticas raparigas só para falarem um pouco. Ofereceram-me uma flor para colocar no cabelo e estivemos a falar uns minutos. A sério, a simpatia deste povo é uma coisa do outro mundo. É normal alguém vir falar connosco só para isso mesmo, falar. Perguntam se precisamos de alguma coisa e a única coisa que pedem de volta é um sorriso nosso. Se tirarmos uma foto e mostrarmos, então é um delírio.




Uma outra prova desta genuinidade, foi quando fomos jantar a um óptimo restaurante ao lado do rio e chegámos a meio de um espactáculo de marionetas. Vieram montar uma mesa no meio do jardim para nós e no final, as duas mesas com pessoas foram embora e ficámos apenas nós. Como não tínhamos visto o inicio, repetiram todo o espectáculo apenas para nós. Em mais nenhum local isto acontece…








INLE LAKE


Dia seguinte, 7h da manhã no autocarro e 8 longas horas até Nyaungshawe. 5 dólares logo à entrada da localidade para um bilhete que permite visitar a área. O hotel escolhido foi o Inle Inn, com um pátio deveras simpático. Como esta localidade é muito pequena e onde se encontram hospedados a grande maioria dos turistas, a percentagem deles na rua é incrivelmente maior do que nos locais por onde passei.





A viagem até Nyaungshawe justifica-se para visitar o Lago Inle, segundo os locais, lago sagrado do país. Para fazer a visita, a única maneira possível é alugar um barco par todo o dia. O aluguer do barco custou 20000 kyats e inclui o guia e todas as paragens que acharem necessárias, assim como o tempo. A parte má é que o dia começou bastante chuvoso, e nem com impermeável até aos pés e guarda chuva impediu que me molhasse toda. Todo o dia foi feito caminhando no meio de lama, barco molhado, chão sujo, enfim… Monção. O percurso que fizemos incluiu o tricentenário monteiro Maha Aungmye Bonzan, o templo In Dein com centenas de stupas, onde sem querer saímos do caminho principal e fomos pelo meio da selva até lá chegar, com o locais a olharem para nós a pensarem que éramos tolinhos.














De seguida o almoço numa cabana de bambu no meio do lago, pagoda de Phaung Daw OO Paya, que possui um dos objectos mais sagrados do país, os cinco budas cobertos por películas de ouro que os crentes vão colocando e finalmente fomos ver um local de fabricação de seda, lotus e algodão.










Deste dia, lembro-me perfeitamente do senhor super sorridente que guiava o barco e do rustico inglês que falava, o que impedia uma conversa de mais de 3 palavras, e mesmo assim era quase sempre acompanhado por gestos. Uma dica: “Cópé” significa “go back” em inglês com o sotaque do senhor… pois, não é fácil de compreender e implica muito esforço.








De Nyaungshawe até ao aeroporto de Heho são cerca de 20000kyats e demora uma hora. O destino era Yangon. É possível fazer de autocarro, mas demora umas cansativas 18h. De avião, numa das 4 companhias a fazer voos internos, demora pouco mais de uma hora, mas fica por 100dls. O que adorei neste aeroporto? Bem, todo o processo de check in é diferente, parece um balcão de autocarros ou comboios, funciona à base de autocolante que nos colam na camisola com a companhia e destino. As malas ficam todas ao lado do balcão, na segurança não existe limite de líquidos nem sacos para os colocar, qualquer pessoa pode sair da única sala de embarque e ir a pé até à pista que fica a 10 metros e o melhor de tudo, a chamada para o embarque é feita com um cartaz numa mão e um megafone na outra… brutal!!!






YANGON

Cidade completamente inundada aquando da nossa chegada. Felizmente, após pousar as malas no hotel (New Yar) a chuva parou e deu para dar uma voltinha. Como o tempo na oficiosa capital era pouco, teve de se aproveitar ao máximo a tarde. Assim, saímos directos para Shwedagon Paya, um conjunto de templos e pagodas de cortar a respiração. Contava encontrar a mais alta pagoda do país, mas não esperava todo o esplendor que a rodeava. Aquele complexo ficou ao nível do palácio real de Bangkok, e quem conhece sabe que não é tarefa fácil. O esplendor era tanto que era fácil ficar uns bons minutos a observar alguma coisa, principalmente quando num templo se encontravam pessoas a rezar. Numa dessas vezes, a mulher policia do templo, ao ver a minha expressão de espantada e encantada, veio ter comigo e tentou explicar, num inglês muito básico a história do templo e das estátuas de budas que lá se encontravam.











Já a meio da tarde fomos a pé até ao lago Inya onde se encontra o magistral barco que é uma réplica do antigo barco da família real. No seu interior existe um restaurante para os bolsos mais recheados. Para lá chegar existem duas maneiras, entrando pelo jardim ou percorrendo o estrado de madeira sobre o lago (ambos se pagam). Daqui lembro-me de dois monges budistas que foram interceptados por um asiático para tirar uma foto, quando reparo, está um dos monges de óculos de sol aos saltos de pernas abertas… muito bom.









Ultimo dia em Myanmar, ultimo jantar em Yangon… Como europeus estamos habituados a jantar tarde ao contrário dos asiáticos. Então, para encontrarmos um restaurante com comida ocidental tivemos de dar uma boa corrida e esperar que estivesse aberto. Eram 20h30 quando entrámos e comi uma sande que agradeci aos deuses.


 É sem sombra de duvida um dos países mais hipnotizantes do mundo. Paisagens naturais de cortar a respiração e áreas urbanas caóticas e deliciosas. Pessoas com uma natureza respeitadora e acolhedora que se torna difícil de acreditar que esta é uma nação que até recentemente esteve isolada do resto do mundo por cinco longas décadas. Apanhado em algo como uma armadilha do tempo, Myanmar foi poupado ao rompante desenvolvimento urbano e modernização ao qual sucumbiu a maioria nas nações asiáticas. Oito dias neste fabuloso país e apesar de chocar por ser extremamente pobre, por ver a grande maioria das pessoas a viver sem as condições básicas, por ter paisagens e monumentos incríveis, sei que a recordação mais viva e que vai perdurar mais fortemente é desta incrível gente. Todos dispostos a entregar um sorriso em troca de nada, uma incrível ingenuidade e uma simpatia inigualável. Levo comigo cada sorriso, muitas conversas que tive ao longo destes dias e uma enorme gratidão por me cruzar com estas pessoas e aprender que podemos viver com pouco e manter sempre um sorriso, porque no fundo, o que realmente importa é tendo muito ou pouco, saber viver cada dia com um sorriso no rosto.

Dia 2 de manhã, o adeus a Myanmar e o olá a Singapura.

19 comentários:

  1. Ola! Que lindo relato, estou encantada com esse país e planejando conhece-lo em Dezembro. Voce poderia dizer quantos dias ficou? Parece-me que foi apenas uma noite em cada local, é isso? Ainda, onde voce trocou o dinheiro e se as notas de dólares tem mesmo que ser perfeitas?
    Por último, desculpe-me pelo abuso, como voce reservou o 1o. Hotel e o voo para Yangon? Penso que terei de reservar todos com antecedencia, pois vou em alta temporada...
    Muito obrigada!

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  2. Quanto a dias fiquei 2 noites em cada local, excepto em Yangon que fiquei apenas uma noite. Se os dias forem bem aproveitados, acho que é suficiente. Ter em atenção que se perde muito tempo em viagens, mas são sempre de manhã muito cedo, ou seja, fica-se com dia e meio para cada local.
    dia 1 - viagem Bangkok - Mandalay.
    dia 2 - Conhecer arredores de Mandalay
    dia 3 - viagem Mandaly - Bagan (5h de viagem)
    dia 4 - Conhecer Bagan
    dia 5 - viagem Bagan - Inle lake (8h de viagem)
    dia 6 - Conhecer Inle lake
    dia 7 - Viagem Inle Lake - Yangon (1h de avião ou 18h de autocarro)
    dia 8 - Saída de Myanmar

    Dinheiro - Levei dólares da Europa. Pedi no banco que fossem notas novas. Ao chegar a Mandalay levantei Kyats no ATM do aeroporto. Como ao longo do tempo fui precisando mais de kyats do que dólares, fui trocando nos hoteis. Em Inle Lake e Yangon já existem imensos ATM.

    Hotel - a primeira noite reservei através do site Agoda. Pode procurar no Agoda ou no Booking, mas não são muitos os hóteis que lá aparecem e geralmente são muito caros. Quanto a dormida e transporte, penso que não têm qualquer problema, os hoteis possuem uma rede entre eles e arranjam sempre dormida para os turistas para o local seguinte. Tente ficar em alojamentos familiares e evitar ao máximo os do Governo.
    Não vai encontrar muita informação na internet sobre dormidas e transportes, mas estando no país vai ver que é mesmo muito simples arranjar isso, não há com que se preocupar.

    Boa viagem e espero que goste tanto quanto eu deste país

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  3. Ah, outra coisa, o voo. Comprei no site da Air Asia a ida para mandalay e o regresso pela Jetstar desde Yangon para Singapura

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    1. Ah sim, os voos para/de Myanmar eu vi, mas o interno (a Air Mandalay me pareceu ter o melhor preco - caros os voos por la, ne?) nao consegui reservar online...
      Muito obrigada por responder, ajudou bastante em meu planejamento. :)

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    2. São bastante caros, mas é isso ou 18h de autocarro.
      O voo comprei no hotel. Pedi na recepção 2 bilhetes e no dia seguinte já lá estavam. Também paguei lá. Tudo se arranja nos hoteis :)

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  4. Oi...adorei seu relato sobre myanmar estou indo pra la em dezembro gostaria de saber se eh verdade que da pra tirar o visa pela internet???...se puder me ajudar agradeco!!!...

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  5. Olá,
    pelo que sei não é possível arranjar visto na internet. Sei que este ano já facilitam e é possível arranjar na internet uma autorização para arranjar um visto à chegada, mas isto é apenas para visita de negócios. Um turista tem sempre de levar já o visto quando entra no país. Para arranjar o visto é necessário o voo de entrada e saído do país e um hotel. No entanto, não é necessário ir pessoalmente a uma embaixada ou consulado arranjar o visto. Pode-se enviar arranjar os documentos na internet, preencher e enviar tudo (juntamente com passaporte) para uma embaixada. Sei que na europa deve se enviar também um envelope e selo para eles mandarem depois o passaporte com o visto.

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  6. Ola, super providencial esse seu relato para mim. Eu vou a Ásia agora dia 14 de novembro e Myanmar está no meu provável roteiro.
    Vi que você ficou 8 dias, eu só terei 6... Será que estaria a perder muito se excluísse o Inle lake?
    Tem ideia do quanto gastou por dia mais a hospedagem?
    Eu li que o governo pede que se faça uma troca compulsória de moeda na chegada, isso vale mesmo?
    Muito obrigado!

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  7. Olá Fernando,
    Por uma questão de gosto pessoal preferi Inle Lake a Yangon. Nós éramos duas pessoas e estávamos a gastar uma média de 40 a 50 USD el alojamento, 20 USD por dia para comer e beber. Tours em Mandalay e Inle lake a 40 USD cada um. Quanto ao dinheiro, leva USD e kyats. Eu levei muito mais em dólares e acabei por gastar mais dinheiro em kyats

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  8. No próximo mês irei fazer uma viagem pelo o sudeste asiático e estou bastante entusiasmada com a hipotese de incluir myanmar no meu trajecto!! Mas como irá ser a meio da viagem não faz mais sentido arranjar lá o visto? Na tailandia? Estou bastante confusa ou é melhor arranjar cá na Europa assim que tiver os bilhetes ida e volta comprados? A papelada onde se arranja?

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  9. Pode-se arranjar o visto em Bangkok, mas demora uns dias. Como já conhecia Bangkok e não tinha muitos dias decidi levar o visto da europa. O formulário encontra-se na net em sites das embaixadas. Preencher tudo, fotos, reserva do hotel, reservas aéreas, passaporte com mais de 6 meses de validade e esperar uns dias.

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  10. Relato maravilhoso!! Onde recomenda o melhor lugar para cambiar dólares por kyats?
    Esse auto-carro para os trajetos Mandalay-Bagan-Inle, você solicitou na recepção do hotel, certo? Pagou quanto por pessoa?
    Obrigada!

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    1. Obrigada :)
      Arranjei tudo no hotel, até o voo. O valor do autocarro não me recordo, mas sei que era barato, qualquer coisa como 4 ou 5 euros.

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  11. Olá, Quelarinha, tudo bem? Vi que você ficou 8 noites. Eu planejo 12 ou 13. Se você pudesse ficar mais tempo em cada lugar, como faria a distribuição?

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    1. Olá Marcos. Sem duvida um dia mais em Yangon. Existe também uma vila (que agora não me recordo do nome) entre Bagan e Inle Lake no meio de montanhas, muito apreciada por turistas. penso que também seria uma boa opção.

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  12. Olá Quelarinha. Tudo bom?

    Já faz algum tempo que quero fazer uma viagem para Myanmar e se você puder me tirar algumas dúvidas.
    1- Quanto de dinheiro você chegou a levar na sua viagem?
    2- Você sabe se existe algum problema em levar lembranças de volta pra casa? Li uma vez que Myanmar tem uma grande reserva de rubis e eu gostaria de levar uma pedra como lembrança. Vc acha que teria algum problema com isso?
    3- A sua viagem foi de 8 dias, mas vc acha que com 8 foi o suficiente para ver tudo sem apertar a viagem ou foi o ideal?
    4- Em relação a segurança. É sossegado lá ou é temos que ficar sempre atentos?
    5-Alguma dica que vc puder dar kkkkk

    Muito bom o relato, gostei bastante.

    (não sei se estou comentando duas vezes... Deu um erro aqui.)

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  13. Olá, vou tentar responder às perguntas:
    1 - entre viagens, alojamentos, alimentação e tours, acho que gastei por volta de 400 euros.
    2 - existem pedras preciosas, mas não se encontram com muita facilidade. Depois de ganhar alguma confiança com as pessoas pode aparecer uma que lhe vende. Eu na altura não comprei porque não queria... Mas posso dizer que se tivesse comprado acho que nao teria problemas na alfandega. O que vi foi venderem apenas as pedras, nada de metais, o que ajuda a passar no aeroporto. Além disso, são coisas tão pequenas que facilmente passam. Deve avisar no entanto que existem vários avisos a dizer que é proibido a compra de pedras preciosas.
    3 - com 8 dias dá para fazer, mas se possivel um pouco mais. Dá para ver as coisas com mais calma.
    4 - quanto à segurança, posso dizer que andava sozinha com o meu namorado à vontade por todos os lados, a qualquer hora, algumas vezes já bastante tarde e em ruas com mau aspecto, e nunca, nem uma unica vez me senti insegura. Posso dizer que foi dos países onde me senti mais segura. Apesar do aspecto das vilas e cidades, vai reparar que as pessoas são incrivelmente simpáticas e com pouca ou nenhuma maldade nelas.
    5 - Dicas, já escrevi o que me lembrava aqui no post e nas respostas. Por agora não me estou a lembrar de mais nada.

    Boa viagem :)

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  14. Olá,

    Só para dizer que adorei este texto. Lindo! Vou dedicar-me a ler os restantes :)
    As minhas férias este serão na Birmânia pelo que veio mesmo a calhar :)

    Beijinhos

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  15. Olá Kiki, Fico muito agradecida. Espero que gostes tanto deste país quanto eu :)

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